Em emergência, governar com urgência

O grande horror adoecendo ainda mais o país não é – penso eu – apenas o de, com o vírus, estarmos entregues a emergências. A tragédia é que as emergências aumentam ainda mais o terror da pobreza estrutural que atinge milhões de nossos conterrâneos. E a infâmia da miséria já chegou, também, a Piracicaba, onde aumenta o número de desempregados, de desassistidos, de órfãos da equidade. E essa palavra – equidade – é que nos aumenta a responsabilidade social, o compromisso político. Pois equidade “é o respeito à igualdade de direito de cada um, que INDEPENDE DE LEI POSITIVA (grifo do autor), mas de um sentimento do que se considera justo”. (Houaiss)

Mergulhamos em tempos emergenciais, tornando-nos prisioneiros de circunstâncias aceleradamente dramática, muitas delas já trágicas. Não nos é mais possível – tal a dimensão desse naufrágio – conceber apenas a ação pessoal ou da sociedade civil em nível de caridade, de filantropia, de assistencialismo social. Isso é necessário e bom, mas não basta. É hora de o Estado intervir vigorosamente. E, por Estado, há que se entender também Município, que é onde as famílias vivem habitualmente. Logo, há que se esperar – e cobrar – da Prefeitura, dos poderes municipais. Situações emergenciais exigem reações também emergenciais. Portanto, urgentes. Urgentíssimas. Seria um absurdo não atender a lição que já nos foi dada: “num mundo globalizado, pensar globalmente mas agir localmente.”

Poucas vezes, como agora – repetindo como que situações de guerra – a municipalidade tem que agir. Mas sem conservadorismos ultrapassados. Agir com audácia, buscando soluções originais. A motivação municipal, acredito, teria que ser inspirada pelo histórico New Deal (novo acordo) imposto, nos EUA, por Franklin Roosevelt, que enfrentou economias engessadas, investindo maciçamente em obras. Por que Piracicaba não sair à frente, antes que a explosão chegue? Por que não hortas coletivas em terrenos ociosos; por que não desapropriações em obras de engenharia abandonadas, interditadas? Por que não construir mais parques, mais jardins, pintar guias de sarjetas, abrindo espaços para a mão de obra menos qualificada? Por que não imaginar, criar?

Na economia de mercado livre, uma futura – mas ainda longínqua – retomada do emprego irá atender apenas aos que estão profissionalmente mais preparados. A miséria, porém, bate à porta das pessoas simples.

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Cecílio Elias Netto

Cecílio Elias Netto

Jornalista e escritor

1 comentário

  1. Mauro Garcia em 4 de março de 2021 às 09:00

    Muito bom contar com seu comentário / seu texto por aqui … espero que diariamente ( ou quase diariamente ) boa sorte , saúde … sucesso não preciso desejar ( sucesso tem sido seu companheiro através de toda sua jornada de brilhante jornalista e cronista )
    Sou Mauro Garcia , meu pai foi o Garcia Netto , radialista falecido em 1973 … sei que vcs estiveram juntos em algumas etapas por aí
    Grande abraço

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