Xuxa e bobice

Entre as muitas e tantas dúvidas com as quais convivo, mais uma, nos últimos tempos, deixa-me sem respostas. Pergunto-me: no absurdo de tolices que os meios de comunicação nos transmitem, quem é mais tolo: o entrevistador ou o entrevistado? Ora, em jornalismo – pelo menos foi o que aprendi ainda na adolescência – entrevistar alguém era ir em busca de uma opinião, de informação. Para isso, porém, havia uma questão fundamental a se levar em conta: o que é opinião, o que é liberdade de expressão? E sempre foi aí que as dificuldades surgiam.
Há coisas banais, corriqueiras, pontos de vista que podem e devem ser respeitados. Opinião, porém – no verdadeiro significado dela – implica argumento. Ora, até hoje existem os que afirmam a Terra ser plana, incluindo personagens do mundo governamental. Isso, porém, não é opinião, pois não há qualquer argumento que possibilite a tese. É declarada bobagem, burrice. Se alguém – digo, quanto a mim – pedir minha opinião sobre a chegada do homem à Marte, posso dizer de maravilhas. Mas se me pedir opinião tecno-científica sobre o grande feito, direi besteira se tiver a ousadia de atendê-lo.
A Xuxa foi entrevistada por um repórter a respeito dos testes de vacinas contra a covid. Ela, exatamente por ser a Xuxa, respondeu que os testes deveriam ser feitos em presidiários, pois eles, pelo menos assim, se mostrariam úteis para alguma coisa. Seria, a dela, uma terrível desumanidade ou, apenas, uma burrice monumental?
Lembrei-me de quando, pela primeira vez, vi a Xuxa pessoalmente. Foi nos 1980, no aeroporto de Porto Alegre. Aguardando a chamada para o meu voo, fui tomar um café e, toda espevitada, apareceu uma jovenzinha loura, muito bonita, agitada. Perguntei à atendente, se era a Xuxa, então muito conhecida por ser namorada do Pelé. A moça, parecendo ser íntima da Xuxa, falou: “É ela, sim. Mas é bobinha, bobinha. Só fala bobagem…”
Quase me livro da dúvida: o repórter é que foi um tolo em entrevistar a Xuxa para uma questão tão importante e grave no mundo atual. A Xuxa é, ainda, um encanto de mulher. Mas… Fiquemos por aí.

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Cecílio Elias Netto

Cecílio Elias Netto

Jornalista e escritor

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