Um desgovernado só desgoverna
São, por enquanto, mais de cem pedidos de impeachment nos armários do presidente da Câmara. O homem tem sido chamado, por alguns e em escala crescente, de genocida. Outros pedem que se lhe façam exames psiquiátricos. Quase mais ninguém duvida, porém, de tratar-se de um desgovernado, alguém que não tem governo nem sobre si mesmo. Ora, se se põe um desgovernado para governar, nada há de de esperar senão um desgoverno. Pois o desgovernado desgoverna. E, num governo desgovernado, aquele que desgoverna é um desgovernante.
Acontece, porém, que uma pessoa desgovernada não chega, por si só, a um cargo que exige governança. Um desgovernado, para chegar lá, é escolhido, eleito. Mas que, governando-se a si mesmo, tem consciência de eleger algum desgovernado para governar. Pode-se admitir várias hipóteses: quem elege um desgovernado pode ser, também, desgovernado como o que será governante; ou não saberia, por ignorância, que o seu eleito era desgovernado. Nesse caso, a responsabilidade é ainda maior. Pois nunca se deve levar um desconhecido para cuidar de assuntos, problemas, questões séria.
Outra possibilidade: votar num desgovernado, elegendo-o para ser desgoverntante, seria uma questão de má fé. Ora, sei que o desgovernado, tornado desgovernante, irá desgovernar. Mas é justamente isso que eu quero: que o desgovernado desgoverne. E quero isso por ser eu, votante, um ressentido, um complexado, alguém cheio de ódios ou – vejam bem! um palhaço num grande circo. Pois um desgovernador, um desgovernante, um desgovernado terá prazer em desgovernar o circo onde atua. E o palhaço ficará feliz. Pois sua alegria é a desgoverno, o desastre, a alegria de ver o circo pegar fogo. O palhaço esquece que, no incêndio, ele pode ser
Cecílio Elias Netto
Jornalista e escritor