Páscoa sem ressurreições
Paulo: “E se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e, também, é vã a vossa fé.” Eis, pois, o centro da fé cristã: a ressurreição. É a Páscoa, a passagem, a vitória da vida sobre a morte. É a celebração da vida. É o momento culminante que revolucionou a humanidade e que, há dois mil anos, busca criar uma civilização mais humana e justa.
No entanto, nossa Páscoa – mesmo renovando a fé de tantos por todo o mundo – tem o sabor salgado de lágrimas. E é a morte que deixa o olor de saudade e de amarguras. Reportemo-nos apenas ao Brasil: quase 350 mil humanos não irão ressuscitar, sem que saibamos quantos poderiam estar vivos e ao lado de seus queridos se houvesse, neste país, mais dignidade governamental. E – em nome do Ressuscitado! – que se não fale mais em incompetência, em loucura, em irresponsabilidade. Trata-se de uma consciência criminosa que faz até as pedras clamarem por justiça.
Os brasileiros que levaram essa figura tétrica à presidência da República – seja por convicção, seja por ódio a outros, seja por ignorância – são corresponsáveis, sim, por esse Finados em que se transformou a Páscoa brasileira. Numa democracia, ninguém se elege por si mesmo. Dirigentes, governantes, representantes do povo são eleitos. A culpa maior, portanto, não deve recair sobre eleitos, mas sobre eleitores. Se um mínimo de compaixão, de solidariedade humana, de fraternidade ainda houvesse – essa Páscoa deveria ser, para os responsáveis, o momento adequado para o arrependimento: “Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa.”
Seria honesto e digno. Mas os mortos não ressuscitarão. Uma Páscoa de lágrimas. Enquanto isso, os mentirosos e desumanos continuam em seus cargos… Que a Páscoa nos traga o perdão.
Cecílio Elias Netto
Jornalista e escritor