Paralização exige moratória

Ainda recentemente permiti-me uma sugestão ao sr.Prefeito Municipal e vereadores recém-eleitos. Que se criasse – diante da trágica situação em que já nos encontrávamos – o que denominei de Gabinete de Inteligência. Ora, não acredito haja quem – por mais autoridade e poder tenha – afirme ter resposta ou solução para tantas e tão dramáticas circunstâncias. Secretários municipais, funcionários, auxiliares compõem o corpo executivo, voltado a propósitos já definidos da administração. Nessa tragédia, um Gabinete de Inteligência deveria reunir especialistas nas mais diversas áreas para uma tentativa de, pelo menos, produzir análises universalistas. Não é, aliás, o que fazem os grandes empresários, com os seus Conselhos de Administração?
O Brasil está vivendo o pior dos mundos, agora substanciado numa insuportável tragicomédia. Lembremo-nos: o drama contém da comédia e da tragédia. No Brasil, a tragédia tem sido tratada, em Brasília, como comédia. E aí estamos nós, no horror do tragicômico, sofrendo enquanto atores inventam coisas para rirmos. Piracicaba, historicamente, sempre se portou com pioneirismo de forma que, mesmo não apresentando soluções definitivas, deu à luz ideias forjadas pela ciência e pela reflexão.
O povo – antes de tudo acontecer – já se vira em situação dolorosamente alternativa: “Se ficar, o bicho come. Se correr, o bicho mata.” Pois é essa, exatamente, a hora que estamos vivendo. Se parar, morre-se de fome. Se agir, morre-se de covid. Logo, miseravelmente, não nos tem sido apresentada qualquer luz no túnel, mesmo por estarmos muito longe de chegar ao final dele.
Pois bem. O sr.Prefeito decretou a paralisação de tudo, a exemplo do que tem ocorrido em outros estados. A ciência diz que devemos fazê-lo. Mas há que se perguntar: como fazer? O desafio é gigantesco e um Gabinete de Inteligência haveria de ter propostas, sugestões e, em especial, análise universalista para se avaliar os mais diversos ângulos da dolorosa questão. Ora, nossos governantes – em todos os níveis nacionais – não governam coisas, objetos, construções. Governam PARA, EM BENEFÍCIO. E o sujeito e objeto dessa responsabilidade tem nome: o povo. E povo são pessoas.
Fechou? Foi necessário? Aceitemos que sim. Mas e os compromissos? Como o empregador pagará o empregado; como o comprador pagará o vendedor; como o contribuinte pagará os impostos e taxas? O Brasil foi despertado para a grande farsa econômica a que fomos submetidos. Inevitavelmente, virá um novo pacto social. No entanto, Piracicaba exige que esse pacto seja feito já, entre nós. Um pacto entre instituições e a sociedade em favor da população
Deveríamos, creio eu, iniciar por uma moratória entre Prefeitura e contribuintes: suspensão do pagamento de IPTU e outros. Como desempregados, comerciantes, entidades irão pagar se não podem trabalhar? Outra medida emergencial: proibir o corte d´água pelo SEMAE, numa moratória para futuros pagamentos. Pactuar com a Cia de Energia elétrica que faça o mesmo em relação a desempregados pelo menos. Ou, então, que estabeleça horários, em rodízio, de interrupção de energia. Apelar à consciência humanitária das imobiliárias para serem mais flexíveis em relação a pagamentos de alugueis. Enfim, que um Gabinete de Inteligência estude todas as hipóteses. Se fechou, tem que compensar!

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Cecílio Elias Netto

Cecílio Elias Netto

Jornalista e escritor

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