“Mas o que é que eu posso fazer?”
Não há como dimensionar o somatório de dificuldades que a todos nos envolve. No mundo – que pretendemos globalizado – as crises são, também, globais. Exigiriam, portanto, soluções globais. Mas não acredito nisso, nessa possibilidade. Como muitos estudiosos haviam previsto, a globalização levaria à fragmentação. Levou. É como um vaso que foi estilhaçado: mesmo juntando-se-lhes os cacos, os pedaços, nunca mais será o mesmo vaso.
Há que ser compreensível – para não se falar em normalidade – a perplexidade em que nos encontramos, a sensação de impotência. Paralisamo-nos diante da pergunta que nos fazemos a nós mesmos: “O que é que eu posso fazer?” Quanto ao todo, eu também não sei.
Lembro-me, porém, de uma historieta que, penso eu, deveria servir-nos de inspiração. É a narrativa do incêndio na floresta, as chamas devorando quase tudo. Então, um beija-flor sentiu-se na obrigação de ajudar. E voava e voava, indo até a lagoa, bicando uma gotinha d´água, jogando-a no fogaréu. Ia e voltava, carregando gota por gota. O elefante inquietou-se, achando inútil todo aquele esforço da avezinha. “Nem eu, com minha tromba, conseguiria levar água para apagar o incêndio, e você, com esse biquinho…” O beija-flor apenas respondeu: “Eu faço a minha parte”.
Uma família que eu possa atender, um desempregado a quem eu ajude, um faminto que eu alimente, uma atenção que eu ofereça- isso não irá, sem dúvida alguma, apagar todo o incêndio. Mas estarei, pelo menos, fazendo a minha parte. E é simples assim.
Cecílio Elias Netto
Jornalista e escritor