Geisel já advertira: “mau militar”

Felizmente, a memória é, ainda, cultivada – e respeitada – por muitos. Nesses nossos dias tormentosos, há quem se recorde do notável trabalho da também notável Maria Celina d´Araújo, entrevistando o ex-presidente da ditadura, Ernesto Geisel. Um parêntese: dos militares que, naqueles anos, governaram o país, dois deles mereceram o respeito de estudiosos e de muitos brasileiros – o então Marechal Castello Branco e o General Ernesto Geisel. Mesmo discordando-se ou, a eles, opondo-se, reconhecia-se a seriedade deles.
A entrevista concedida por Geisel a Maria Celina – em 1993 e poucos anos antes e falecer – teve a repercussão de uma bomba em praça pública. A autora publicou-a em livro, intitulado “Geisel”, que se tornou documento realmente histórico. No livro, Geisel discorre, também, sobre a presença de militares no governo, que ele – como ex-presidente de um governo militarista – condena. Para Geisel, militares devem ficar fora da política partidária, mas não da política geral.
Ainda naquele 1993, Geisel contesta os que, como pretexto, invocam o retorno à ditadura. E cita, enfaticamente, o então deputado federal Jair Bolsonaro. Era, já àquela época, a grande meta do confuso deputado, amante da ditadura. E, literalmente, Geisel diz à escritora: “… o Bolsonaro é um caso completamente fora do normal, inclusive um mau militar.”
A advertência de Geisel tem sido reavivada nas redes sociais e pelos meios de comunicação. E, assustadoramente, vemos um dos retratos do caos a que foi levado o Brasil, à quase loucura. Ora, o penúltimo presidente da ditadura militar – que preparou o terreno para o retorno à democracia, “de maneira lenta, gradual e segura – adverte paro perigo de um retorno à ditadura e um “mau militar” demonstra seu apetite para o fechamento do regime a perda da liberdade do povo. Se nem o líder das Forças Armadas da época levou a sério tal homem, como pode ter acontecido isso? Será que Pelé – “o povo brasileiro não sabe votar” – tinha razão e nós não o levamos a