3 de março: 1911/2021

Espero seja-me concedida uma simples explicação. Mas essencial para este escrevinhador. Não se trata de coincidência o lançamento deste blog no dia 3 de março de 2021. Foi uma escolha, necessidade d´alma. Neste dia, meu pai, Tuffi, estaria completando 110 anos. Estaria, não, está. Pois, embora em uma outra dimensão que desconheço, ele continua cada vez mais vivo em minha memória e daqueles que o conheceram. Não pretendo fazer-lhe uma homenagem póstuma. Escolhi essa data para agradecer e fazer-lhe um confíteor, onde quer que ele esteja. Agradecer pela vida, pela sabedoria com que me propôs e sugeriu a existência: com amor, com beleza, com alegria. Aceitando dores e frustrações. Por saber que desenganos não diminuem o maravilhamento de viver. E confessar-lhe, a meu pai tão amado, que, sim, valeu a pena! Ele estava encantadoramente certo: vale a pena viver, desde que saiba coar, escolher, optar. Meu confíteor: ao aceitar aqueles ensinamentos, entendi mais facilmente a beleza, o privilégio de ter nascido. E de viver. E de ainda estar vivo.

Nesse meu agradecimento, o que mais desejo é que ele, meu pai, me inspire e de dê forças para, neste blog – e nestas horas tão amargas – eu possa transmitir a simplicidade de toda a sabedoria humana: amar e ser amado. Impossível – é o que aprendi da vida – amar todas as pessoas. Mas amar e ser amado em sua própria tribo, em seu lugar de viver – isso é espiar um pedacinho do Paraíso. Piracicabanos, podemos amar e ser amados aqui mesmo. Apenas assim, talvez, consigamos superar toda essa aflição. Não se trata de recuperar o que foi perdido, de voltar ao mundo que começou a esboroar. Trata-se de, em comunidade, construir uma nova cidade, uma nova comunidade. Mais humana. Para isso, no entanto, devemos ser tomados pela indignação diante de tantas injustiças e misérias, com convicção, porém, de que somos nós os responsáveis por nossa própria casa.